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Moradores convivem com poluição sonora, buracos nas vias públicas e rachaduras nas casas

Moradores relatam caos ambiental com usina próxima de casas em Monte Mor

Instalada em uma área rural na região do Jardim Campos Dourados, usina de concreto e fábrica de blocos estruturais alteraram rotina de famílias que vivem há 40 anos no bairro; há barulho excessivo, poeira química e muitos buracos

Moradores do Jardim Campos Dourados, em Monte Mor, relatam caos ambiental e abandono após a instalação, em outubro de 2023, de uma usina de concreto e de fábrica de blocos estruturais na região. Ambas empresas foram implantadas a apenas 30 metros de residências do bairro, em uma área rural que antes era repleta de árvores centenárias. A população do bairro aponta possíveis crimes ambientais, poluição sonora e poeira química.

De acordo com os moradores, que pediram anonimato, a autorização para o funcionamento dessas empresas foi concedida ainda na gestão do ex-prefeito Edivaldo Brischi (PSD), com aval do então secretário do Meio Ambiente, Claudinei Aparecido Rodrigues - hoje réu em uma ação penal pelo crime de concussão devido à cobrança de valores para autorização de serviços de poda de árvores.

Desde então, moradores relatam uma verdadeira deterioração na qualidade de vida. O que antes era um bairro tranquilo, habitado por famílias há mais de 40 anos, se transformou em um ambiente insalubre, barulhento e cercado por poluição de todos os tipos, disseram ao Tribuna Liberal.

“Logo no início da instalação, os transtornos foram imediatos. As obras aconteciam todos os dias, começando por volta das 5h da manhã e se estendendo até meia-noite, sem qualquer fiscalização da prefeitura ou da secretaria responsável. A população tentou, em vão, dialogar com o então secretário do Meio Ambiente, Claudinei Rodrigues”, afirmaram. A prefeitura foi acionada diversas vezes, chamados foram abertos, mas nenhuma providência foi tomada.

A instalação da usina trouxe uma série de impactos ambientais e sociais que afetam diretamente a saúde e a rotina dos moradores. O barulho constante dos equipamentos e caminhões chega a picos de 97 decibéis, segundo medidores de ruído instalados por moradores — acima do limite legal comumente permitido em áreas urbanas.

A poluição atmosférica também foi apontada. Segundo os relatos, os silos de armazenamento de cimento funcionam sem filtros apropriados, espalhando partículas químicas no ar e afetando a saúde principalmente de idosos e pessoas com doenças respiratórias. “Uma senhora que depende de oxigênio para viver, por exemplo, hoje sofre crises de ansiedade porque precisa manter a casa toda fechada para tentar conter a poeira e o barulho”, disseram.

As empresas utilizam ruas residenciais como rotas para caminhões pesados e betoneiras, o que já comprometeu o asfalto da região e causa risco de acidentes. Além disso, não há estacionamento correto para os veículos, que são deixados nas ruas do bairro, dificultando o tráfego de moradores. O barulho, a vibração intensa dos caminhões e máquinas têm provocado rachaduras em diversas casas da vizinhança.

Há também denúncias de que restos de materiais são queimados no local e a fumaça tóxica invade as residências. A combinação entre a queima irregular, a poeira da estrada de terra e a emissão de poluentes dos caminhões cria um ambiente insalubre, com relatos de problemas respiratórios, dermatológicos, crises de ansiedade e aumento nos gastos com medicamentos e consultas médicas.

“Mesmo com a troca de governo, seguimos sem respostas. A atual secretária do Meio Ambiente, foi procurada, mas disse apenas que está tudo certo, sem apresentar qualquer documento oficial ou licenças que autorizem a atividade das empresas. De acordo com a Resolução CONAMA 237, esse tipo de empreendimento requer três licenças ambientais — a Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO) —, que até o momento não foram apresentadas. Técnicos e engenheiros contratados pelos moradores apontaram diversas irregularidades que reforçam os indícios de crime ambiental”, contou um morador.

APOIO

O caso foi denunciado ao Ministério Público e os moradores também conseguiram apoio político: um ofício do deputado federal Delegado Palumbo (MDB) foi enviado à Prefeitura de Monte Mor e à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), pedindo providências. A reportagem ainda não conseguiu contato com as empresas.

FISCALIZAÇÃO

Questionada, a Prefeitura de Monte Mor informou que diante dos relatos dos moradores, a Secretaria de Meio Ambiente irá realizar a fiscalização e solicitar a documentação para averiguar se a empresa está atuando conforme as exigências legais.

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