Evento em Hortolândia ajuda criança atípica a evoluir fala e a comer melhor
Instituto Unicamente reúne 60 pessoas em treinamento didático e esclarecedor sobre como lidar com a seletividade alimentar e se comunicar de modo adequado com crianças autistas; pais elogiam recomendações recebidas em ação
Beth Soares | Tribuna Liberal
Pais de crianças atípicas tiveram a oportunidade de aprender
que a brincadeira é um importante instrumento para lidar com a seletividade
alimentar dos filhos e ajudá-los a desenvolver a fala durante o Treinamento
Autismo na Prática, realizado pelo Instituto Unicamente, no domingo (18), no
Hotel Business Park, em Hortolândia. Cerca de 60 pessoas, entre pais e
profissionais de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista),
participaram do treinamento.
Para tratar sobre a seletividade alimentar, o Instituto
trouxe Thais Ferrari, nutricionista especialista em TEA. Durante o treinamento,
ela esclareceu, com exemplos práticos e didáticos, a principal dúvida dos pais
de crianças atípicas: O que fazer diante da recusa de certos tipos de comidas,
seja pela cor, pelo sabor ou pela textura?
Inicialmente, os pais precisam ter paciência para ajudar o
filho a se familiarizar com esses alimentos e a buscar maneiras diferentes de
apresentá-los à criança, um passo a passo, cujo resultado é ver a criança
comer. “A criança tem que provar o alimento, tocá-lo, sentir o cheiro,
interagir, tolerar e, finalmente, comer. É preciso respeitar essas etapas”,
explicou a nutricionista aos pais.
Segundo Thais, a brincadeira é um recurso bastante
importante na terapia alimentar. “Os pais podem cozinhar junto com a criança,
fazer uma horta para ela se sentir estimulada a saborear o alimento que
plantou. Na clínica, dou superpoderes aos alimentos. Dias desses, dei ao limão
o superpoder da careta. A criança provava porque queria brincar de fazer careta
e, assim, vamos apresentando os alimentos que ela recusa, de maneira
divertida”.
A especialista observou que nos casos de seletividade
alimentar em que a questão neurocognitiva de crianças com TEA é mais
desafiadora, é preciso atendimento multidisciplinar que, além da nutricionista,
necessita do suporte de outros profissionais, como neuropsicólogo e terapeuta
ocupacional.
“Nosso principal objetivo com essa palestra é trazer a
alimentação de uma forma respeitosa para crianças atípicas com seletividade
alimentar. É conseguir fazer a aproximação dela com os alimentos recusados para
que ela se desenvolva de uma forma saudável, mas de uma maneira tranquila, sem
traumas”, comentou a especialista.
Além dos desafios na alimentação, os pais aprenderam a se
comunicar melhor com os filhos que se relacionam por meio da comunicação
não-verbal durante a palestra “Como falar com a criança que não fala?”, tema
abordado por Renata Bertagnoli, fonoaudióloga especialista em linguagem.
A autora do método Orienta Mamãe para estimulação da fala
cativou o público com seu bom humor e conteúdo prático, que pode ser aplicado
em casa pela família. Durante a palestra, Renata destacou que a brincadeira é
uma poderosa ferramenta para estimular crianças atípicas com comunicação
não-verbal a desenvolverem a fala. Segundo ela, o normal é que crianças comecem
a falar entre um ano e um ano e meio de idade.
“De cada 10 crianças que chegam ao meu consultório, oito não têm estimulação dos pais para falar...Para desenvolver a habilidade da fala é preciso estimular o contato visual com a criança, sentar no chão para brincar, esperar o tempo de resposta, sem forçar”, recomendou a fonoaudióloga ao observar que o contato de crianças com telas é, atualmente, o maior inimigo para estimular a fala por um motivo simples. “Não há diálogo entre a criança e a televisão, o computador ou celular. Digo aos pais que é preciso desligar a Galinha Pintadinha e ir para o chão brincar com os filhos”, explicou a terapeuta da fala.
TEMAS FUNDAMENTAIS
O desenvolvedor de software Vitor Saes, pai do Davi, de 7
anos, atendido pelo Instituto Unicamente, em Hortolândia, elogiou o treinamento.
“Vim pela questão da seletividade alimentar, um dos principais desafios que
temos hoje com o Davi, que é autista. Achei o treinamento bastante produtivo e
didático, com temas fundamentais. Foi muito fácil compreender algumas atitudes
falhas que a gente faz no dia a dia... Na parte de comunicação, ficou bem claro
como entender e valorizar a linguagem não-verbal da criança que não fala e como
se comunicar melhor com ela. Achei fantástica a abordagem das duas palestras”,
observou Vitor.
A terapeuta ABA e psicopedagoga Cristiane Mendes Fogassa,
moradora de Hortolândia, se inscreveu no treinamento para ampliar os
conhecimentos no seu dia a dia com crianças atípicas. “As palestras de hoje vão
agregar muito no meu dia a dia de trabalho... Nós profissionais que atendemos
crianças atípicas nos cobramos muito para fazer o melhor e temos medo de
falhar. Palestras como essa são muito importantes... Nas escolas, esse
treinamento para professores deveria ser requisito básico porque, muitas vezes,
o educador não sabe o que fazer com uma criança atípica em sala de aula por
falta de conhecimento”, assinalou Cristiane.
A neuropsicóloga Beatriz Filliettaz, fundadora do Instituto
Unicamente, adiantou que planeja levar o treinamento Autismo na Prática para as
escolas do município, com temas variados e essenciais no cuidado da criança
atípica, para auxiliar os profissionais da educação a lidarem melhor com alunos
com TEA.
“Nosso principal objetivo com o treinamento é oferecer
informação prática para pais, professores, profissionais que trabalham com
crianças atípicas e precisam de um cuidado especial. Nossa meta é levar esse
treinamento às escolas. Trouxemos os temas seletividade alimentar e comunicação
porque são desafios que os pais levam à clínica. Eles sentem dificuldade no dia
a dia em lidar com as crianças que recusam certos alimentos, de se comunicar
com o filho que não fala. Essas questões impactam na rotina das crianças e das
famílias, mas podem ser superados, sem traumas, quando se tem informação”, afirma
Beatriz.
O Instituto Unicamente (www.institutounicamente.com.br) é
uma clínica especializada em atendimento infantil nas áreas de psicologia,
neuropsicologia, psicopedagogia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, com
unidades em três cidades da RMC (Região Metropolitana de Campinas): Campinas,
Hortolândia e Monte Mor. O Instituto trabalha com a terapia ABA, altamente
reconhecida para o desenvolvimento neurocognitivo de crianças com TEA.
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