Hortolândia registra queda de 66% nas queixas de trabalho infantil, mas combate continua
Com apenas um caso reportado entre janeiro e maio, nova campanha educativa foi lançada com ciclo de palestras e ações de conscientização nos CRASs; dados do MPT também apontam atuação mais firme
Hortolândia tem avançado na luta contra o trabalho infantil.
Segundo dados do Ministério Público do Trabalho (MPT), o município registrou
apenas uma denúncia formal de trabalho infantil entre janeiro e maio de 2025,
uma queda de 66% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram três
denúncias. Apesar da redução, o alerta permanece: o problema persiste e exige
vigilância constante.
A prefeitura lançou neste mês a campanha de combate ao
trabalho infantil, com um evento no Teatro Elizabeth Keller de Matos, no Jardim
Amanda. O encontro reuniu cerca de 300 pessoas, entre servidores públicos,
conselheiros tutelares, representantes da OAB e de organizações da sociedade
civil.
A secretária municipal de Inclusão e Desenvolvimento Social,
Maria dos Anjos Assis Barros, emocionou o público ao lembrar de sua própria
infância. “É muito bom ter tantas pessoas comprometidas em defender o direito
da criança para que ela possa ter uma infância feliz e, com isso, um futuro
melhor garantido. Fico honrada de hoje estar à frente dessa pasta, cuidando dos
direitos das crianças. Eu, que tive tantos direitos violados na minha infância,
hoje poder ajudar crianças a ter uma infância de verdade e com isso um futuro
melhor”, afirmou Maria dos Anjos.
A campanha deste ano tem como lema “Trabalho infantil não é
brincadeira!” e busca conscientizar a população sobre os riscos e consequências
do trabalho precoce. Panfletos educativos estão sendo distribuídos nos eventos
e nas unidades dos CRASs (Centros de Referência de Assistência Social),
destacando fatores como pobreza, evasão escolar e exploração, e incentivando o
uso do Disque 100 para denúncias.
Além da redução nas denúncias, o MPT já firmou um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) com uma empresa da cidade, responsabilizada por
envolvimento em situação irregular envolvendo trabalho infantojuvenil. O acordo
prevê medidas reparatórias e ações preventivas internas por parte da companhia.
O adjunto da pasta, Gérson Ferreira, ressaltou que o combate
ao trabalho infantil vai além do aspecto legal. “É um imperativo ético. Quando
uma criança trabalha, ela perde o direito de brincar, de aprender, de se
desenvolver plenamente. Precisamos continuar investindo em educação, em
políticas de assistência e conscientização comunitária”, disse.
O ciclo de palestras continua ao longo de junho em diversos
bairros, com encontros nos CRASs dos bairros Jardim Brasil, Nova Hortolândia,
Jd. Primavera, Novo Ângulo e Rosolém. A programação visa reforçar as ações do
SUAS (Sistema Único de Assistência Social) na proteção de crianças e
adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Dados recentes mostram que 6.372 crianças e adolescentes
foram retirados de situações de trabalho infantil no Brasil entre 2023 e abril
de 2025, sendo que 86% estavam nas piores formas de exploração — como exposição
a riscos à saúde e desenvolvimento.
A legislação brasileira é clara quanto à proibição: menores de 14 anos não podem trabalhar, exceto na condição de aprendiz a partir dos 14 anos. Casos de violação devem ser denunciados por qualquer cidadão. A campanha municipal segue até o fim do mês e pretende atingir todas as regiões da cidade com informação, orientação e articulação intersetorial para enfrentar o trabalho infantil em todas as suas formas.
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