Crise diplomática entre Brasil e EUA coloca RMC em alerta econômico
Tensão entre governos de Brasília e Washington ameaça diretamente número de empregos e investimentos na Região Metropolitana de Campinas, enquanto Argentina avança para ocupar espaço no mercado norte-americano
A crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos ganhou
contornos críticos após o tarifaço de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros,
com reflexos que já começam a preocupar diretamente a economia da Região
Metropolitana de Campinas (RMC). O agravamento das relações bilaterais, marcado
por atritos políticos e ideológicos, coloca em risco investimentos, exportações
e milhares de empregos no principal polo industrial e tecnológico do interior
paulista, formado por 20 cidades, como Sumaré, Hortolândia, Paulínia, Nova
Odessa, Monte Mor, Americana e a metrópole Campinas.
De acordo com análise do especialista em Relações
Internacionais e pós-graduado em Comércio Exterior, Di Serra, a questão vai
muito além de disputas pontuais ou de figuras políticas específicas, como o
ex-presidente Jair Bolsonaro. “O incômodo dos EUA é profundo e decorre de uma
percepção crescente de que o Brasil se afasta de princípios democráticos, com
decisões judiciais vistas como autoritárias e uma postura internacional que
flerta com regimes rivais”, avalia.
Fatos recentes, como a realização da cúpula dos BRICS no
Brasil, sinais de aproximação com países rivais dos EUA, a defesa pública de
figuras políticas envolvidas em escândalos e episódios de repressão interna —
como prisões por protestos — foram decisivos para acender o alerta em
Washington.
Segundo Di Serra, o desconforto com a atuação do ministro
Alexandre de Moraes já teria sido externado diretamente ao governo brasileiro
por interlocutores próximos ao presidente Donald Trump, que sinaliza disposição
em adotar medidas ainda mais duras.
Conforme Di Serra, na prática, os EUA começaram a revisar
acordos e a impor barreiras tarifárias contra produtos agrícolas e industriais
brasileiros. Essa pressão atinge diretamente a RMC, onde cidades como Campinas,
Hortolândia, Sumaré, Americana e Paulínia concentram grandes empresas
exportadoras e multinacionais.
O risco é de retração na produção, perda de competitividade
e ameaça real de corte de postos de trabalho. “Quando a confiança do investidor
cai, a primeira reação é suspender ou redirecionar projetos para mercados mais
seguros. E isso já está acontecendo”, alerta Serra.
ARGENTINA AVANÇA
Enquanto o Brasil enfrenta tensões com Washington, a
Argentina, sob a liderança de Javier Milei, avança, analisou Di Serra. Trump
anunciou recentemente a intenção de zerar tarifas de importação sobre produtos
argentinos, favorecendo principalmente a carne bovina — setor onde o Brasil liderava
as exportações para os EUA.
Essa guinada abre espaço para a Argentina ocupar o mercado norte-americano em um momento de alta competitividade global, consolidando-se como alternativa preferencial e deixando o Brasil em posição vulnerável.
ESTRATÉGIA ARRISCADA
O governo Lula estuda aplicar a “lei da reciprocidade”,
sobretaxando produtos norte-americanos. Para Serra, a medida, além de
simbólica, pode ser economicamente desastrosa. “O Brasil deveria adotar uma
postura de neutralidade ativa, reconstruir pontes e proteger seus mercados.
Retaliar um parceiro estratégico só agrava o isolamento e prejudica a indústria
nacional”, explica.
Com menos exportações, queda no investimento estrangeiro e
mais barreiras comerciais, a consequência para a população é direta: alta do
dólar, inflação, desemprego e retração econômica.
DIPLOMACIA COMO SAÍDA
A saída, segundo o especialista, está na diplomacia
pragmática. “Defender soberania não significa confrontar aliados históricos.
Precisamos de equilíbrio, não de radicalização”, resume Serra.
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