Colunas
Lanna Vaughan Romano é advogada e Presidente da Comissão de Direito Médico da OAB/Sumaré

Coluna Direito Médico e da Saúde – Por Lanna Vaughan Romano*

O médico e a ausência de Assessoria Jurídica: um risco silencioso à carreira

Na rotina atribulada da Medicina, é comum que os profissionais da saúde priorizem o bem-estar dos pacientes acima de tudo. Contudo, um aspecto essencial para a proteção da carreira médica muitas vezes é negligenciado: a assessoria jurídica especializada.

É preciso entender que o médico, ainda que atue exclusivamente na rede pública de saúde, não está imune a responsabilidades legais. Uma ideia equivocada bastante comum é a de que, por ser o Estado o único responsável civil pelos atendimentos prestados no SUS, o profissional estaria completamente “protegido” de eventuais processos. Mas essa percepção é perigosa e incompleta.

Na esfera civil, de fato, a responsabilidade por indenizações decorrentes de falhas médicas em atendimentos públicos recai, em regra, sobre o ente público — seja o município, o estado ou a União. Isso se baseia na teoria da responsabilidade objetiva do Estado, prevista na Constituição. Entretanto, há exceções. Em casos de comprovada atuação dolosa (com intenção) ou extremamente negligente, o profissional pode ser chamado a ressarcir os cofres públicos por meio de uma ação de regresso movida pelo próprio Estado. E isso já não é tão raro quanto se imagina.

Além disso, na esfera criminal, o médico responde individualmente pelos seus atos. Condutas como omissão de socorro, lesão corporal culposa ou até homicídio culposo (sem intenção de matar) podem ensejar processos penais. E aqui não importa se o atendimento foi público ou privado: a responsabilidade é pessoal e direta.

Outro ponto que exige atenção é a responsabilidade administrativa. O Conselho Regional de Medicina (CRM) é o órgão responsável por fiscalizar a ética no exercício profissional. Denúncias de pacientes ou familiares podem gerar processos ético-disciplinares, que podem culminar em penas que vão de advertência até a cassação do registro profissional.

Portanto, atuar sem uma assessoria jurídica especializada é um risco que pode comprometer anos de estudo, dedicação e reputação. O profissional do Direito Médico não atua apenas em momentos de crise, mas também na prevenção, na orientação sobre preenchimento de prontuários, consentimentos informados, condutas em atendimentos de urgência e, sobretudo, na proteção do exercício ético e seguro da medicina.

A medicina cuida da vida. O Direito Médico, da carreira de quem salva vidas. Ignorar essa parceria é abrir espaço para inseguranças desnecessárias e riscos evitáveis.

*Lanna Vaughan Romano é advogada, inscrita na OAB/SP desde 2009, Presidente da Comissão de Direito Médico da OAB/Sumaré, pós-graduada em Direito da Farmácia e do Medicamento, Direito Médico, Direito Penal Econômico e Europeu pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra-Portugal, Direito Público pela Universidade do Sul de Santa Catarina.

E-mail: dra.lannaromano@gmail.com

End.: Rua Dom Barreto, nº1.380, Centro, Sumaré/SP.

Rede social - instagram: dra.lanna_vaughan

Deixe um comentário