Paciente que morreu por suposta negligência médica na UPA de Monte Mor sofreu quase um mês com dores
Vereadores pedem investigação do atendimento realizado, uma vez que idosa caiu do telhado, foi três vezes à unidade e saiu sem fazer tomografia; mulher precisou ser levada a dois hospitais da região para identificar aneurisma cerebral
Paulo Medina | Tribuna Liberal
A morte da moradora de Monte Mor Nilza Aparecida dos Santos,
de 68 anos, ocorrida no dia 11 de abril, ainda gera repercussão na cidade e
motivou um requerimento formal do vereador Josuel da Conceição ao prefeito
Murilo Rinaldo (PP), solicitando a abertura de uma investigação dentro do
Executivo para apurar o atendimento prestado à paciente na UPA João Brischi. O
pedido foi aprovado em plenário por unanimidade na noite desta segunda-feira
(28). A paciente ficou cerca de um mês com dores até morrer. Ela caiu do
telhado em março.
Segundo o vereador, há indícios de negligência médica no
atendimento inicial e subsequente à paciente, que sofreu uma queda de
aproximadamente três metros no dia 9 de março. Na ocasião, ela bateu a cabeça,
o joelho e a coluna. Mesmo apresentando sintomas preocupantes, como dores na
cabeça, Nilza foi atendida rapidamente, teve apenas um curativo feito e
realizou um raio-X, cujo resultado não apontou fraturas. De acordo com o
relato, o médico responsável prescreveu apenas dipirona e ibuprofeno e a
liberou sem realizar exames mais detalhados, como uma tomografia.
A situação da idosa, no entanto, se agravou nas semanas
seguintes. Ela voltou à UPA em 6 de abril com fortes dores de cabeça, foi
medicada e liberada novamente. No dia seguinte, retornou à unidade com piora no
quadro e foi submetida a exames laboratoriais, sendo diagnosticada com uma
infecção urinária.
Após nova alta, no dia 8, diante da deterioração do seu
estado, a família a levou ao Hospital Municipal Mario Covas, em Hortolândia,
onde foi finalmente submetida a uma tomografia que identificou um aneurisma
cerebral.
A paciente foi então transferida para o Hospital Estadual
Sumaré (HES), onde um neurocirurgião constatou que a situação já havia se
agravado a ponto de tornar a cirurgia inviável. Nilza retornou ao Hospital
Mario Covas, vindo a falecer três dias depois, no dia 11 de abril. O
parlamentar afirma ter procurado a Secretaria de Saúde e o gabinete do prefeito
já no dia 14 de abril com um ofício pedindo esclarecimentos, também enviado via
WhatsApp, mas sem obter qualquer retorno até o momento.
Josuel também mencionou Boletim de Ocorrência e prontuário
médico sobre o assunto. “Eu não estudei Medicina, (mas) a gente vê claramente
que houve falhas”, afirmou o parlamentar. “Essa mulher passou 27 dias com dor,
voltando na UPA e relatando o mesmo problema da queda, que a dor era
consequente da queda, e nada foi feito”, disse ele, que defendeu a apuração dos
fatos e não descartou acionar o Ministério Público.
O presidente da Casa, Beto Carvalho (PP), disse que esteve
com um dos responsáveis pela UPA e afirmou que foi aberta sindicância. “Mas
isso (o requerimento) aqui é bom para incorporar mais, e a gente poder cobrar”,
disse.
Ao Tribuna Liberal, a Secretaria de Saúde de Monte Mor
informou na semana passada que seria instaurada uma sindicância interna para
apuração dos fatos e verificação da legalidade do atendimento clínico prestado
na UPA João Brischi. A secretaria falou em “compromisso com a melhoria contínua
dos serviços de saúde e com a apuração rigorosa de quaisquer situações que
demandem esclarecimento”.
PREFEITO COBRA RESPOSTA DE GESTORA DA UNIDADE SOBRE
PROCEDIMENTO
A Prefeitura de Monte Mor informou nesta terça-feira (29)
que reforça o pedido feito à empresa Beneficência Hospitalar Cesário Lange, que
administra a UPA João Brischi, sobre a abertura de sindicância interna para
investigação dos fatos ocorridos na unidade.
“A Secretaria Municipal de Saúde está empenhada em verificar
a legalidade do atendimento clínico prestado à paciente, por isso cobra uma
resposta da empresa. Vale destacar que a Prefeitura de Monte Mor tem trabalhado
a cada dia para melhorar o atendimento público de saúde oferecido à população e
para cobrar explicações de casos como o desta paciente”, disse, por meio de
nota.
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