Vereadora Márcia Campos e ex-assessor solicitam rejeição de aditamento de denúncia em caso de ‘rachadinha’
Ambos chegaram a ser presos em 2022 depois de investigação apontar prática de devolução de parte dos salários de assessores em benefício da parlamentar; Promotoria tenta imputar crime contra outras duas ex-assessoras
Paulo Medina | Tribuna Liberal
A vereadora Márcia Cristina Campos e Isaac Santos Souza,
amigo e assessor político da parlamentar, solicitaram formalmente ao Poder
Judiciário a rejeição de um aditamento à denúncia apresentada pelo Ministério
Público no caso em que ambos respondem por acusações pelo crime de concussão –
os dois são réus em um escândalo de ‘rachadinha’ no gabinete da parlamentar, em
Hortolândia. O pedido foi feito com base na alegação de ‘ausência de justa
causa’ para a ampliação das acusações, as quais estão sendo analisadas pela 1ª
Vara Criminal de Hortolândia. Márcia e Isaac chegaram a ser presos
preventivamente em 2022 e o caso ganhou repercussão regional.
De acordo com os argumentos da defesa, o aditamento,
protocolado pelo MP, incluiu novos fatos baseados em provas colhidas durante a
instrução processual, o que, na visão dos acusados, caracteriza um expediente
investigativo extemporâneo. O aditamento imputa a prática do crime de concussão
em relação a duas novas vítimas: uma ex-chefe de gabinete de Márcia, e outra
ex-assessora parlamentar.
“Assim agindo, de forma livre e consciente, Márcia praticou,
por cinco vezes, o delito de concussão com relação à vítima J. e por cinco
vezes, o delito de concussão com relação à vítima N., na forma popularmente
conhecida como ‘rachadinha’ (...) Outrossim, de forma livre e consciente, Isaac
concorreu para que Márcia praticasse, por cinco vezes, o delito de concussão
com relação à vítima J. e por cinco vezes, o delito de concussão com relação à
vítima N.”, acusa a Promotoria no pedido de aditamento.
A defesa de Isaac apresentou argumentos para contestar a
solicitação do MP. Em documento assinado por seu advogado, a tese central é que
os novos fatos descritos no aditamento configuram, na verdade, o exaurimento do
crime original de concussão. Segundo a defesa, ao ocorrer a exigência de
vantagem indevida, o crime já teria se consumado, e atos posteriores, como a
entrega de valores, seriam apenas consequências dessa conduta, não configurando
novos delitos.
Além disso, a defesa apontou a falta de clareza na denúncia,
afirmando que a ampliação do número de vítimas cria confusão quanto à
delimitação das condutas atribuídas ao acusado, dificultando o exercício do
contraditório e da ampla defesa. Nesse contexto, foi solicitado que o
aditamento fosse rejeitado e, em caráter subsidiário, que houvesse a absolvição
sumária de Isaac.
No caso de Márcia, a defesa reiterou a contestação já
apresentada em relação à denúncia inicial e afirmou que o aditamento não trouxe
elementos novos que justificassem sua aceitação. Segundo os advogados da
vereadora, os fatos narrados no aditamento apenas detalham ações relacionadas à
denúncia original, sem configurar novos crimes. A defesa também destacou que os
repasses financeiros mencionados no aditamento foram feitos por terceiros, e
não demonstram autoria direta de Márcia nos crimes imputados.
Além disso, a defesa anexou provas documentais, incluindo
áudios e mensagens de texto, para reforçar que as acusações não possuiriam
indícios suficientes de autoria ou materialidade.
O MP, por sua vez, sustenta que as novas provas obtidas — em
especial as decorrentes da quebra de sigilo bancário — indicam a prática
continuada do crime de concussão, justificando o aditamento da denúncia.
Segundo o órgão, os documentos revelam transferências financeiras realizadas
pelas duas ex-assessoras, sob ordens de Márcia, para contas ligadas ao
financiamento de atividades de interesse da vereadora, como o Projeto Cão
Feliz, e para terceiros associados ao seu gabinete.
Conforme o promotor Pedro dos Reis Campos, em depoimentos
anteriores, testemunhas já haviam relatado pressões para que parte de seus
salários fosse repassada a Márcia e seu assessor, configurando o esquema
popularmente conhecido como ‘rachadinha’. Esses relatos, segundo o MP, foram
corroborados pelas transações bancárias anexadas ao processo.
Em 2022, o MP denunciou a vereadora por prática de
‘rachadinha’, acusando-a de cometer o crime de concussão. O Ministério Público
também imputou a responsabilidade ao seu então assessor, Isaac, por
envolvimento direto na operação ilícita. A Justiça recebeu a denúncia contra
Márcia e seu assessor neste ano.
Eles chegaram a ser presos preventivamente em 2022, mas
respondem a ação em liberdade. O promotor de Justiça justificou a prisão
preventiva dos réus na época, alegando que a liberdade deles representava uma
ameaça à ordem pública e ao bom andamento das apurações. Segundo o promotor, as
práticas de ‘rachadinha’ são especialmente graves, pois envolvem desvio de
recursos públicos.
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