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Marcelo Silva, a esposa Marta e os filhos Guilherme, Lucas e Laura

Pais compartilham rotina de amor e os desafios da paternidade atípica

Neste Dia dos Pais, Tribuna Liberal entrevistou homens com histórias de vida diferentes, mas vivências em comum: dedicação, esforço e aprendizado para atender as necessidades especiais dos filhos com Transtorno do Espectro Autista

O soldador José Celestino da Silva, 48 anos, é pai do Thomas, 13 anos, diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista) aos três anos de idade. Desde então, o morador da Vila Real, em Hortolândia, vive num aprendizado constante para atender as necessidades especiais do filho. Neste Dia dos Pais (10/08), o Tribuna Liberal entrevistou homens com histórias de vida diferentes, mas que têm um ponto em comum: a paternidade atípica.

“É bastante desafiador. A gente precisa entender o mundo deles para se relacionar. É difícil lidar com algo desconhecido (TEA), não temos preparo para isso. Contamos com a ajuda de profissionais especializados e é difícil até para eles”, comenta Silva, referindo-se ao trabalho de neuropsicólogos, terapeutas ocupacionais e psicopedagogos que auxiliam no desenvolvimento do seu filho.

José Celestino e Thomas

Silva, que é separado da mãe de Thomas, diz que faz questão de manter uma rotina de cuidado com o filho. Durante a semana, pega o menino na casa da mãe e leva às consultas médicas, às sessões de terapia ocupacional e à psicopedagoga. Também não abre mão de acompanhá-lo nas aulas de natação, atividade que, segundo Silva, acalma o garoto. Thomas mora com a mãe e um final de semana sim, outro não, fica na casa do pai.

“Depois que soube do diagnóstico, me aproximei ainda mais do Thomas. Ele me ensinou muitas coisas, dentre elas, ser mais calmo e escutar mais. Ele diz que sou a única pessoa que consegue entendê-lo”, comenta Silva.

Para o soldador, a discriminação social é o principal desafio enfrentado. “A sociedade é implacável com a pessoa com deficiência. Existe bullying na escola porque o Thomas é diferente das outras crianças. Sofro junto com meu filho. Minha luta, agora que ele está na adolescência, é prepará-lo para enfrentar o mundo, ter vida social. Penso todos os dias: o que vai ser dele quando eu não estiver aqui?”, desabafa, emocionado.

Outra preocupação de Silva é com o futuro do filho no mercado de trabalho. Para ele, é preciso ampliar as políticas públicas para inclusão de pessoas com TEA nas empresas. 

O ajudante de serviços gerais, Marcelo da Silva, 51 anos, morador de Hortolândia, é pai de três filhos com necessidades especiais: Guilherme, 22 anos, e Laura, 16, são autistas. Lucas, o caçula de 12 anos, é deficiente auditivo.

Marcelo conta que a rotina é “pesada” e “cansativa” para ele e a esposa, Marta, que sempre cuidaram dos filhos sem rede de apoio. O diagnóstico de Guilherme veio aos três anos. O de Laura, aos 15. Lucas perdeu 70% da audição do ouvido esquerdo ainda bebê. “Minha mulher vive pra eles, não trabalha fora, só aos finais de semana, quando estou em casa, que ela tem feito bicos para reforçar o orçamento, que é baixo para os cuidados que os nossos filhos exigem”, afirma.

Assim como José, Marcelo também se queixa do preconceito. “A sociedade é cruel. A discriminação é diária. Quando a gente vai ao mercado, por exemplo, todo mundo fica olhando e é preciso ficar explicando que meus filhos são autistas, mas gostam de se comunicar. Esses olhares me incomodam muito”, conta Marcelo, que descobriu ser autista aos 50 anos de idade.

SONHOS

Abandonar sonhos e enfrentar a discriminação são alguns dos desafios da paternidade atípica para o motorista executivo, Normando Brito da Rocha, 45 anos, pai do Felipe, 24 anos, diagnosticado com TEA aos três.

“Sei que vou ser pai de uma eterna criança...Meu filho depende totalmente de nós. Meu sonho era ensinar ele a jogar futebol e levá-lo para fora do país... Foi frustrante, mas entendi que os meus sonhos são meus e a vontade dele, é dele”, diz Rocha. 

Normando da Rocha e Felipe

A convivência com o filho com TEA também ensina muito, assinala o motorista executivo. “Aprendi que tudo tem o seu tempo, a ter paciência, fazer adaptações na rotina, a ver o mundo com outros olhos, ter mais empatia e acolher os que estão chegando agora no espectro, a enfrentar o preconceito e entender que não estou sozinho nessa luta”, pondera.

Felipe estuda e recebe apoio de uma equipe multidisciplinar, numa clínica escola. Segundo Rocha, o Dia dos Pais vai ser comemorado com almoço fora de casa. “Vamos comer lasanha, o prato preferido dele”.

 


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