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Despejo indevido de resíduos causa entupimento da rede coletora e vazamento de esgoto nas vias públicas

Municípios da região descartam 116,5 toneladas de lixo nas redes de esgoto

Resíduos despejados de modo irregular entopem tubulações e causam vazamento de detritos em vias públicas, alertam as empresas responsáveis pelos serviços de saneamento em Sumaré, Nova Odessa, Hortolândia Monte Mor e Paulínia

Beth Soares | Tribuna Liberal

Por ano, 116,5 toneladas de lixo doméstico são descartadas de modo irregular no sistema de esgoto sanitário da região (Sumaré, Nova Odessa, Hortolândia, Monte Mor e Paulínia) e atrapalham o funcionamento da rede coletora. O levantamento foi realizado pelas empresas responsáveis pelo serviço de saneamento, nos cinco municípios, a pedido do Tribuna Liberal.

Sacola plástica, fralda descartável, preservativos, absorventes, tampas, canudos, isopor, restos de alimentos, cigarro, cotonete, fio dental, papel higiênico, pedaços de roupa, óleo de cozinha, entre outros, são os tipos de resíduos mais encontrados nas tubulações de esgoto, segundo as companhias de saneamento. O despejo indevido causa entupimento da rede coletora e vazamento de esgoto nas vias públicas.

A Coden Ambiental, responsável pela gestão dos serviços de água e esgoto em Nova Odessa, recolhe da rede de esgoto 57 toneladas de lixo por ano. Segundo a empresa, quando o esgoto chega à estação de tratamento, o resíduo grosseiro é retirado automaticamente pelo sistema de gradeamento. O resíduo fino, por peneiramento. Quando necessário, também é feita uma limpeza manual.

“Esses materiais entopem as tubulações e causam vazamentos. Nas estações, isso afeta o bombeamento e a eficiência do tratamento, gerando intervenções para a retirada dos resíduos. Na rede, o esgoto escorre pelas ruas ou volta para dentro das casas”, explicam técnicos da Coden, por meio da Assessoria de Imprensa. A empresa realiza, em média, 53 serviços por mês referentes a vazamentos, retorno, entupimentos e reparos na rede de esgoto.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), responsável pelos serviços de água e esgoto em Hortolândia, Monte Mor e Paulínia, estima que o descarte irregular de lixo é responsável por cerca de 80% dos casos de entupimento, que causam transtornos à população.

A média anual de lixo descartado irregularmente e retirado da rede de esgoto pela Companhia é de 3,1 toneladas em Hortolândia; 2,2 toneladas em Monte Mor; e 2,5 toneladas em Paulínia. No período de janeiro a outubro deste ano, a Sabesp conta que já realizou mais de 2 mil serviços de desobstrução nas redes coletoras de esgoto, nas três cidades, devido ao descarte irregular de lixo. Após retirar os materiais da tubulação, a Sabesp encaminha os resíduos para os aterros sanitários.

A Companhia destaca que realiza um trabalho contínuo de limpeza preventiva na rede coletora de esgoto para evitar obstruções e extravasamentos nas ruas e residências. Mesmo assim, é comum as equipes encontrarem nas tubulações materiais que não deveriam estar lá como como preservativos, absorventes, embalagens plásticas, pedaços de pano, estopas, fraldas descartáveis e até peças íntimas.

“O lançamento de materiais em vasos sanitários e ralos ocasiona sérios transtornos aos próprios moradores, como extravasamentos, mau cheiro, aparição de pragas urbanas e até prejuízos à saúde humana”, alerta nota da empresa de saneamento.

Em Sumaré, a BRK recolheu nas estações de tratamento de esgoto do município 51,74 toneladas de lixo de janeiro a dezembro do ano passado. Neste ano, já foram retiradas 40,79 toneladas de resíduos sólidos das estações, informa a empresa, por meio da assessoria de imprensa.

De acordo com a BRK, os resíduos chegam à rede de esgoto principalmente por meio do descarte em pias, vasos sanitários e ralos. “Muitas pessoas acreditam que a rede de esgoto é capaz de transportar qualquer tipo de material, o que é um grande equívoco. A rede de esgoto foi dimensionada para receber 99% de material líquido e somente 1% de sólido. Além disso, o descarte inadequado de óleo de cozinha também contribui significativamente, pois o óleo se solidifica nas tubulações, formando barreiras que retêm outros resíduos”. 

MAIS CUSTOS

A remoção desses materiais é feita pelas equipes da BRK por meio de serviços de desobstrução, que utilizam técnicas específicas, como o hidrojateamento, uma operação que aplica jatos de alta pressão para liberar o fluxo nas tubulações. Dependendo da gravidade da obstrução, os profissionais precisam abrir poços de visita e, em casos extremos, realizar intervenções manuais.

De acordo com a empresa, além de entupir as tubulações, o que pode causar extravasamentos de esgoto em vias públicas e residências, poluição de rios e corpos d’água, o descarte desses resíduos também dificulta o tratamento do esgoto nas estações, aumentando os custos operacionais e o consumo de energia.

Segundo a empresa, aproximadamente 92,6% dos serviços de desobstrução de redes de esgoto em Sumaré são necessários por causa do descarte inadequado de lixo. De janeiro a dezembro de 2023, a BRK informa que realizou cerca de 2.360 serviços de desobstrução de redes de esgoto em Sumaré. De janeiro até setembro deste ano, esse número já chega a 1.643.

É PRECISO DESCARTAR RESÍDUOS NOS LUGARES CERTOS, AFIRMA ESPECIALISTA

O engenheiro agrônomo especialista em gestão de resíduos sólidos, Mimo Ravagnani, superintendente do Consimares (Consórcio Intermunicipal de Manejo de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Campinas), afirma que o descarte de resíduos no lugar certo é a única forma de a população evitar a obstrução das redes coletoras de esgoto e contribuir para a preservação do meio ambiente de forma geral.

Mimo Ravagnani: é preciso ter consciência ambiental e parar de jogar cotonete, fio dental e sacolas plásticas

“Resíduos secos como plástico, papel, vidro e alumínio são os mais prejudiciais ao meio ambiente porque são difíceis de degradar. Se separados e descartados de modo correto, em ecopontos, esses materiais, além de preservar o meio ambiente, geram trabalho e renda aos profissionais da reciclagem. É preciso ter consciência ambiental e parar de jogar cotonete, fio dental, sacolas plásticas em vasos sanitários e ralos”, comenta Ravagnani.

O especialista afirma que cidades da região do Consimares oferecem ecopontos para o descarte correto de recicláveis, a exemplo de Hortolândia, que disponibiliza 13 PEVS (Pontos de Entrega Voluntária de Entulhos e Recicláveis), além do serviço de coleta seletiva porta a porta em 33 bairros.

“O Consimares trabalha para ampliar o serviço de coleta seletiva nas sete cidades do Consórcio, em parceria com cooperativas de reciclagem e o setor privado, ao mesmo tempo em que promove ações educativas para conscientizar a população sobre a importância do descarte correto de resíduos”, afirma Ravagnani.

O consórcio público de gestão de resíduos atua em sete cidades: Capivari, Elias Fausto, Hortolândia. Monte Mor, Nova Odessa, Santa Bárbara d´Oeste e Sumaré, onde vivem cerca de 1 milhão de habitantes, que produzem cerca de 700 toneladas de resíduos/dia.

 A Sabesp reforça que a regra mais importante é sempre lembrar que “lugar de lixo é no lixo”. “O papel higiênico não deve ser jogado no vaso sanitário. Grandes quantidades de papel podem gerar blocos que obstruem a rede de esgoto; o mesmo acontece com outros objetos que não se dissolvem na água”, explicam técnicos da concessionária, por meio da Assessoria de Imprensa.

CAIXA DE GORDURA

Além de descartar o lixo corretamente, a Coden Ambiental assinala que é importante instalar caixa de gordura nas residências e estabelecimentos. Outra dica da empresa é conferir se as ligações de água de chuva e de esgoto estão separadas.

De acordo com a Coden, a água de chuva que escorre pelo telhado, pela calha e pelos ralos tem que seguir para os bueiros nas ruas, onde estão as galerias pluviais, que a levará para os rios e córregos. Já o esgoto do banheiro, lavanderia e cozinha vai para a rede coletora, embaixo da terra e depois segue para a estação de tratamento.

“Quando os ralos e calhas de uma casa estão ligados à rede coletora de esgoto, a tubulação não dá conta do recado, principalmente no verão, época em que o volume de chuvas é muito grande e a vazão de água na rede é alta”, observam técnicos da Coden. 

SUMARÉ TEM 16 PONTOS DE COLETA DE ÓLEO DE COZINHA

A BRK realiza em Sumaré o Programa Olho Vivo, que conscientiza e orienta a população sobre descarte correto do óleo de cozinha usado, outro vilão que impede o bom funcionamento do sistema de esgoto. A empresa explica que ao ser despejado incorretamente nas redes coletoras, o óleo com o tempo se solidifica e vira placas que acabam obstruindo as tubulações e causando extravasamentos dos detritos. O resultado impacta não só o meio ambiente, mas também a saúde dos moradores.

Por meio de palestras realizadas em escolas públicas e entidades do município, a concessionária busca orientar os sumareenses quanto aos danos que o óleo pode causar ao sistema de esgotamento sanitário da cidade e ao meio ambiente. Os locais que recebem a palestra se tornam pontos de coleta do óleo usado, que é recolhido e recebe a destinação adequada. Em Sumaré já existem 16 pontos de coleta que podem ser consultados no site da concessionária: https://brkambiental.com.br/programa-olho-vivo.   

COMO A POPULAÇÃO PODE AJUDAR A PRESERVAR AS REDES DE ESGOTO?

• Não descartar lixo, óleo ou restos de comida na pia ou no vaso sanitário.

• Separar corretamente o lixo e disponibilizar os recicláveis aos serviços de coleta seletiva.

• Descartar o óleo de cozinha usado em pontos de coleta apropriados.

• Informar e conscientizar familiares e vizinhos sobre a importância de manter as redes de esgoto livres de lixo.

É PROIBIDO DESCARTAR EM VASOS SANITÁRIOS E RALOS

- Absorventes

- Bitucas de cigarro;

- Embalagens;

- Fio dental;

- Fraldas descartáveis;

- Óleo de cozinha;

- Papel higiênico;

- Preservativos;

- Sacolas plásticas; dentre outros.

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