Crianças fazem plantio em área antes tomada por entulho em Hortolândia
Trabalho da Associação Projeto Águia transforma trecho da
antiga favela da Vila São Pedro em horta comunitária e pomar educativo,
envolvendo crianças e jovens em uma experiência que dialoga com a cidadania e
sustentabilidade
Onde antes o olhar encontrava o cinza do entulho e o silêncio da degradação, hoje despontam brotos verdes, risadas de crianças e o som leve das enxadas abrindo caminhos de vida. Na Vila São Pedro, em Hortolândia, a Associação Projeto Águia planta mais que hortaliças — cultiva sonhos, vínculos e esperanças.
O terreno na Rua Sérgio Franco Giraldes, esquina
com a Rua Antônio Manoel da Silva, começa a mudar de rosto e de alma. É ali que
nasce o projeto Horta Comunitária “Jovens Raízes”, iniciativa de Reginaldo
Prado, o popular Rêgi Águia, que há anos transforma realidades por meio do
trabalho social.
O espaço, onde abrigou a antiga favela da Vila São Pedro e
que estava tomado por entulhos, agora se torna símbolo de renascimento. O solo,
que já foi depósito de lixo, volta a ser morada de vida. A ideia é simples, mas
profunda: reunir crianças e adolescentes em torno do cultivo da terra,
ensinando valores que não cabem em cartilhas — solidariedade, paciência,
respeito e pertencimento.
O Projeto Jovens Raízes tem como propósito central
transformar um espaço urbano degradado em uma horta produtiva e educativa,
protagonizada por meninos e meninas entre 6 e 17 anos. Mais do que plantar
alfaces ou pés de tomate, o objetivo é semear cidadania e consciência
ambiental.
“Queremos que as crianças cresçam com o sentimento de que
podem transformar o mundo à sua volta. Cada muda plantada aqui é uma semente de
futuro”, resume Rêgi Águia, fundador e guardião desse sonho coletivo.
A ação é também uma resposta concreta aos desafios que
afetam tantas comunidades: a falta de oportunidades, o descarte irregular de
resíduos, a carência de espaços seguros e de atividades educativas. A horta
nasce como antídoto contra a ociosidade e a desesperança, oferecendo às novas
gerações a chance de aprender com a terra — sobre nutrição, sustentabilidade,
responsabilidade e, principalmente, sobre a força de agir em conjunto.
As atividades acontecem duas vezes por semana, em encontros
que combinam aprendizado e prática. Cada manhã é um convite à descoberta: as
crianças preparam o solo, conhecem as espécies, aprendem sobre o ciclo da
natureza e o valor do alimento que chega à mesa. No horizonte, além das
hortaliças, já começa a se desenhar o pomar comunitário, que será cultivado por
mãos pequenas, mas repletas de vontade.
O projeto também busca parcerias com a Prefeitura de
Hortolândia, a Secretaria de Meio Ambiente e o Viveiro Municipal, além de
escolas, igrejas e agricultores locais, para que a iniciativa se amplie e se
enraíze na comunidade. A proposta é que o espaço se torne não apenas um ponto
de cultivo, mas um verdadeiro centro de convivência e aprendizado, onde o verde
sirva de elo entre gerações.
Com o tempo, o que hoje é horta será também sala de aula
viva, laboratório de cidadania e vitrine de sustentabilidade. “Cada muda que
cresce aqui representa uma nova chance. A horta é a metáfora perfeita da vida:
se cuidarmos, se regarmos com carinho, tudo floresce”, diz Rêgi, observando a
construção dos canteiros.
O nome Jovens Raízes traduz o espírito da iniciativa: raízes
que se firmam no chão e apontam para o futuro. Aquelas crianças que um dia
brincavam em meio ao lixo agora aprendem que cuidar da terra é também cuidar de
si e do outro. E que o verde — quando nasce da coletividade — tem o poder de
regenerar mais do que o solo: regenera a própria esperança.
Assim, na Vila São Pedro, a vida volta a florescer. “Entre
canteiros, pássaros e sorrisos, o projeto mostra que a transformação começa com
um gesto simples: plantar. E, como toda boa colheita, o que germina ali não é
apenas alimento, mas o mais essencial dos frutos — o da consciência de que
somos todos parte da mesma terra, e que é possível, sim, fazer brotar um mundo
melhor a partir de um cantinho do nosso bairro”, finalizou Rêgi.
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