Advogado Pedro Maciel analisa cenário político e faz críticas à extrema-direita
Pedro Benedito Maciel Neto, conhecido como Pedro Maciel,
visitou novamente o Tribuna Liberal e com carreira consolidada na advocacia, já
foi secretário em Sumaré e Campinas; ele criticou a extrema-direita e o
‘tarifaço’ de Trump contra o Brasil
O advogado e articulista Pedro Benedito Maciel Neto,
conhecido como Pedro Maciel, concedeu entrevista ao Tribuna Liberal e analisou
o cenário político. Com vasta trajetória na advocacia e na gestão pública em
Sumaré e Campinas, Maciel comentou o “tarifaço” de Trump contra o Brasil, fez
duras críticas à extrema-direita, defendeu a soberania nacional e a regulação
das plataformas digitais, além de destacar a importância da democracia e do
desenvolvimento sustentável para o futuro do país e de sua cidade natal.
Maciel é conhecido em várias cidades da região e através do hoje deputado estadual Dirceu Dalben (Cidadania), foi secretário de Cultura, de Comunicação e de Habitação, em Sumaré, as duas últimas ele dirigiu no governo de Luiz Dalben. Ele também foi secretário municipal em Campinas, além de presidente de empresa pública, fundação municipal e de vários conselhos de administração em Campinas.
Trabalhou com os prefeitos Jacó Bittar, Chico Amaral, Dirceu
Dalben e Luiz Dalben e, na última década, foi eleito conselheiro de
administração da SANASA, tendo, mesmo que indiretamente, trabalhado com os
prefeitos Jonas Donizette e agora com Dário Saadi.
Maciel é graduado em ciências jurídicas e sociais pela PUC
Campinas, com sólida formação acadêmica, passou pela FGV, UNICAMP e PUC-SP, foi
professor universitário por mais de duas décadas, mas se encontrou como
articulista, polemista e escritor; tem produzido muitos textos, sempre polêmicos,
sobre direito, política e economia.
TRIBUNA LIBERAL – Os seus textos têm sido bem críticos à
conjuntura política atual. Por que?
PEDRO MACIEL – Estou exausto e creio que a minha irrelevância política esteja me sufocando de maneira irreversível, pois, os adeptos da extrema-direita são refratários a qualquer argumento racional e a minha cruzada, que é escrever para “fora da bolha”, parece inútil, poucos estão dispostos a conversar e quase nenhum deles quer refletir sobre o que está acontecendo no mundo, não só com o Brasil, mas no mundo.
TL – A que o senhor se refere?
PM – Veja, enquanto cerca de 77 mil toneladas de frutas brasileiras, que aguardam exportação para os EUA, correm risco de estragar ou de serem comercializadas abaixo do preço de mercado por causa da tarifa de 50% imposta por Trump, congressistas de extrema-direita comemoram a medida anunciada por Trump que entrou em vigor em 1º de agosto; há ainda a questão dos pescados, grãos e carnes e tentativa de interferência no Poder Judiciário, um verdadeiro golpe de Estado em curso.
TL – O senhor não acha que o Lula é o responsável por ter
criticado o Trump e por ter protagonismo no BRICS?
PM – Não. Lula não é o responsável. Vivemos em estado de “guerra perpétua”, ou de “guerra sem fim”, contudo, o que parece importar aos adeptos de Bolsonaro é dizer “e o Lula?”, “e o PT?”, “e o INSS?”. A extrema-direita que pediu golpe de Estado ao Exército, o tal artigo 142, agora pede que os EUA invadam o Brasil. Deveriam estar todos presos, são golpistas crônicos que enganam as pessoas de bem.
TL – Por que?
PM – Porque o bolsonarismo é um tumor político e social, eles mentem e não se importam em procurar entender que as “guerras perpétuas” de Trump não têm racionalidade ou condições claras que levem ao seu fim; essas guerras geralmente apresentam situações de tensão contínua, semelhante à Guerra Fria; Trump arrastou o Brasil para as “guerras perpétuas” por várias razões: (a) atacar os BRICS e dar sobrevida ao Império Estadunidense; (b) defender as Big Techs; (c) favorecer os bilionários, através de insider trading e, (d) afagar a extrema-direita brasileira e mundial.
TL – E tem a questão das tais “terras raras”, não?
PM – Sim. Esqueci desse item.
TL – O que são as “guerras perpétuas”?
PM – Exemplos de “guerras perpétuas” são, além da guerra
fria, a Guerra do Vietnã, a Guerra soviético-afegã, são guerras contra inimigos
ambíguos, como a “guerra contra o terrorismo” ou a “guerra contra as drogas”;
as guerras perpétuas servem para justificar atos de barbárie (sejam bélicos ou
sanções e narrativas infundadas, como a sanção imposta pelos EUA aos produtos
brasileiros), com provável presença Insider trading, ou seja, uso de
informações privilegiadas, a negociação de valores mobiliários baseada no
conhecimento de informações relevantes que ainda não são de conhecimento
público, com o objetivo de auferir lucro ou vantagem no mercado.
A extrema-direita brasileira, hoje super articulada com a extrema-direita mundial, luta para caracterizar o MST como terrorista (sendo que é um movimento social legítimo), assim como o PCC e o CV (que são facções do crime organizado), porque, em ocorrendo essa caracterização os EUA poderiam partir para uma ação como a que realiza no Oriente-Médio. A extrema-direita brasileira é má, bandida e criminosa.
TL – Mas o presidente Lula não deveria ligar para o
presidente Trump?
PM – Esse momento chegará, mas não será agora; há muitas conversas acontecendo, a disputa é geopolítica, não é comercial ou econômica apenas.
TL – Como o mundo vê essa disputa entre os EUA e o Brasil?
PM - Ao contrário do que escreveu o vereador de Campinas Nelson Hossri, a imprensa do mundo todo censura Trump em relação as suas tarifas; a imprensa francesa, por exemplo, afirmou que a decisão de Trump, de aplicar uma tarifa alfandegária de 50% a todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos gera incredulidade e revolta. O jornal Libération, por exemplo, afirmou que Trump é o mafioso internacional, aliás o Tribuna publicou um artigo meu comentando esse assunto; Trump usa a extrema-direita brasileira e mentiras, além das ameaças econômicas por motivos políticos e com um objetivo de “interferência descarada” na soberania de outro país, para criar fissuras nos BRICS.
TL – Como assim?
PM – Como é possível Trump exigir que o ex-presidente Jair Bolsonaro não seja julgado por tentativa de golpe militar? O Nosso Poder Judiciário é autônomo, somos um país com soberania.
TL – E a influência da internet?
PM – As plataformas digitais americanas, que financiam a extrema-direita no mundo, difundem conteúdos duvidosos, pedofilia e antidemocráticos, por isso precisam de regulação. O Brasil não pode, aliás, nenhum país poderia submeter-se às tentativas de extorsão para interferir na sua política interna do Brasil.
TL – Então a questão não é econômica?
PM – Não. Há profunda incoerência no “tarifaço” imposto ao Brasil, sob a alegação errônea de Trump de que existiria um suposto excedente comercial com os Estados Unidos, pois, são os Estados Unidos que registram um superávit com o Brasil, de US$ 7,4 bilhões em 2024.
TL – O que Trump quer então?
PM – Quer o Brasil fora dos BRICS, quer explorar as “terras raras”, quer que a internet siga sem regulação e se preciso dará um golpe de Estado no Brasil. Infelizmente é o que está em curso.
TL – Mas Trump está pressionando apenas o Brasil...
PM – Desculpe, isso não está correto. Trump não pressiona
apenas o sistema de justiça do Brasil, o sistema israelense, que julga Benjamin
Netanyahu por corrupção, está sob ameaça de Trump também, tanto que acabou por
adiar os depoimentos do primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, que é
réu em um processo por corrupção, acolhendo alegações de que o premier precisa
se concentrar em questões de segurança nacional — como o corrente cessar-fogo
com o Irã e os embates com o Hamas em Gaza.
Inicialmente, a Corte de Jerusalém havia rejeitado as solicitações de adiamento, mas, após as ameaças de Trump, a Corte voltou atrás.
TL – O que fazer?
PM – O que eu procuro fazer e escrever. A minha militância é a da palavra escrita. E escrevo para “fora da bolha” da esquerda, que, em tese, seria o meu espaço de conforto; assumo o risco de falar com todo mundo que queira ler o que tenho a dizer... Além disso, tenho falado na Rádio Brasil Campinas em sextas-feiras alternadas e algumas vezes no Brasil 247. Cada um de nós, verdadeiros democratas, precisa fazer a sua parte.
TL – Nesse contexto, como o senhor vê as eleições do próximo
ano?
PM– Penso que serão eleições importantíssimas. O povo paulista precisa eleger deputados estaduais e federais comprometidos com os valores democráticos e com os objetivos da nossa República...
TL – Quais são esses objetivos?
PM – Os objetivos da República estão lá no artigo 3º da Constituição: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, idade e quaisquer outras formas de discriminação; essas não são pautas da direita não democrática, nem da extrema-direita, são pautas do centro para a esquerda.
TL – O ministro Alexandre de Moraes é um ditador?
PM – Isso é uma bobagem. Alexandre de Moraes é um jurista de direita, com sólida formação acadêmica, erra e acerta como todos nós, mas suas decisões são, todas, submetidas ao colegiado, seja da 1ª Turma do STF, seja do Plenário da Corte. Dizer que ele é um ditador, além de uma mentira, é de grande má-fé.
TL – O senhor quer Bolsonaro preso?
PM – Quero que todos os investigados pelos atos golpistas, que tenham sido denunciados, respondam pelos seus atos, que tenham direito ao devido processo legal, à ampla defesa e, em sendo provada a culpa, sejam condenados, e não sendo provada, que sejam absolvidos.
TL – Bolsonaro está tendo direito ao devido processo legal e
à ampla defesa?
PM – Penso que sim.
TL – O senhor é candidato? Pois está falando como um.
PM – Não, não sou candidato, mas sou um soldado do PSB.
TL – Se o senhor não for candidato pode dizer em quem o
senhor vai votar?
PM – Votarei no Jonas Donizette (PSB) para deputado federal, no Dirceu Dalben (Cidadania) para estadual e nos candidatos do PSB para o governo e para o Senado.
TL – Lula (PT) faz um bom governo?
PM – Sim. Um governo muito bom. Não é nota “dez”, como Lula 1 e Lula 2, mas é nota “sete”, o que é espetacular, considerando que ele sucedeu a Temer e Bolsonaro, os piores presidentes da história o Brasil, e que hoje a extrema-direita não tem compromisso com o país, mas com a destruição institucional.
TL – Alguma mensagem para a cidade de Sumaré?
PM – Amo Sumaré e desejo que a cidade siga o desenvolvimento
de forma responsável, sustentável e, principalmente, que não perca sua
principal característica: ser acolhedora.
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